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Livros da minha vida #2

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As Brumas de Avalon

Género:
Fantástico, Histórico
Autora: Marion Zimmer Bradley

Tenho por hábito, em certas e muito particulares ocasiões, arriscar às cegas no mundo da arte. Às vezes, compro filmes sem saber nada sobre eles, como que atraída por eles. É um sexto sentido que tenho, em que sei imediatamente que aquele pedaço de arte que me está a atrair irá mudar qualquer coisa na minha vida.

Foi o caso com esta obra.

Devia ter 15 anos quando ouvi ou li o título pela primeira vez. Não sei onde, não sei como, até hoje não faço ideia como este título chegou até mim, mas foi na feira do livro de Lisboa, talvez em 2006 se a memória não me falha, que decidi arriscar. Na banca da Difel, vendia-se um pack com os quatro livros por 20 euros. Não perdi mais tempo.

Já não me lembro se os li todos num só ano, mas lembro-me que terminei de ler no verão de 2007. E foi assombroso.

É um fascínio que aqui tenho desde miúda, herdado da minha mãe, pelo mundo britânico, os druidas e o misticismo do megalítico da ilha da Grã-Bretanha, esse fantástico povo envolto em tamanho misticismo e beleza que são os Celtas. A língua gaélica fascinava-me. A mitologia celta era a minha perdição. Além disso, um outro assunto do qual pouco sabia mas que me deslumbrava era acerca desse rei chamado Artur.

Ler este livro foi como um conciliar de expectativas e paixões desses mundos que me tanto me deslumbravam.

Marion Zimmer Bradley encontra um discurso pleno e sereno, que facilmente se adapta às situações que ela cria nesta saga. A fórmula utilizada para recontar a história do Rei Artur é, no fundo, fascinante, mágica, deslumbrante. Este livro trouxe-me risos e lágrimas e ensinou-me coisas inúmeras.

Ele conta a história da ascensão e queda de Avalon, dos confrontos entre paganismos difusos, a vida e a morte desse grande líder aliado ao Cristianismo que era Artur, do ponto de vista de uma mulher enfabulada, enbruxada e enegrecida pela tradição oral: Morgaine, ou como popularmente se enraizou, Morgan le Fay.

O prisma feminino de um império em ascensão e declínio é aqui definido através de personagens distintas e com objectivos bem traçados. Não existem erros nem incongruências. É como se elas próprias tivessem existido, tal é a certeza e o carácter presente em cada uma delas.

O livro não é, como tem-se vindo a pensar erradamente, um contraste brusco entre religiões, uma oposição em força a qualquer tipo de cristianismo. Ele é, antes de mais, a alternativa para essa incessante guerra, a conciliação perfeita e pacífica de dois mundos opostos, de duas crenças em mútua desavença: «Todos os deuses são um Deus».

O destino fatal de Merlin, os erros de Artur, a criancisse de Gwenhwyfar, a aceitação muda e dolorosa de Morgaine, a heroína que silenciosamente aceita as divergências religiosas e assiste ao declínio de um mundo antigo para dar lugar a um novo mundo; a determinação de Morgause, a inocência de Igraine, a bravura de Lancelot e a ousadia de Mordred... Toda uma conciliação perfeita entre personagens atinge, aqui, um culminar belo, uma linda fábula sobre a Britânia celta em guerra com Roma, um conto feminino da Terra e da Natureza.

A escrita de Bradley é cativante. O seu discurso é pleno de beleza, em que cada palavra merece ser saboreada lentamente. Esta é uma obra que me deliciou durante anos (bem como outros livros adjacentes à saga), que me ensinou e me acompanhou. Um verdadeiro clássico.

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