Livros da minha vida #1
00:05Trilogia do Reino Antigo ou Trilogia de Abhorsen
Género: Fantástico.
Autor: Garth Nix
Quando tinha 12 anos, tinha uma professora de português que nos fazia ler. Todas as semanas, ela trazia um livro diferente da colecção Estrela do Mar, da editora Presença, e contava-nos a sua história. Todos nós, preguiçosos como éramos para crianças na flor da adolescência, nos sentíamos imediatamente cativados pelo seu entusiasmo ao recriar as histórias fantásticas na sua própria visão e palavra.
Desde pequena que sempre li, mas foi com esta professora que aprendi a escolher os meus livros, a entrar numa livraria e ler a contra-capa, escolher o desenho mais bonito da capa, avaliá-lo pela sinopse. Passei a ter um gosto e vontade própria em comprar livros.
Quando tinha 14 anos, entrei na Fnac de Almada, muito recentemente aberta no muito recentemente inaugurado Almada Fórum - estávamos em 2004 - e vagueei pela secção infanto-juvenil, onde a minha colecção predilecta (a Estrela do Mar) estava disposta. Nesse dia, aventurei-me por outros corredores, nomeadamente os da secção fantástica.
Ali, todas as capas dos livros que estavam dispostos eram bonitas e tinha desenhos apelativos. As sinopses escritas nas contracapas tinham nomes incompreensíveis e difíceis de pronunciar - apaixonei-me de imediato.
Nunca me apeguei demasiado à literatura fantástica por sentir, por vezes, que não passa disso: fantasia. Um punhado de personagens com nomes esquisitos lançadas para um mundo de monstros e feras em que o escolhido renasce das cinzas de miséria em que provavelmente se insere e domina com riqueza e bravura o seu mundo. E, no fim, consegue a miúda.
Nesse dia em que avaliei a secção de literatura fantástica pela primeira vez, descobri numa prateleira um livro verde intitulado A Missão de Sabriel (versão portuguesa). Os desenhos eram, para mim, ousados e atrevidos. A capa da versão portuguesa apresenta uma mulher de cabelo preto, segurando uma espada numa mão, que atravessa ao longo do seu olhar com um ar pesado e ousado, e no seu peito está atravessado um cinto com pequenas bolsas para sete sinos.
Comecei a ler o livro quase imediatamente e não consegui parar. Quando o terminei, a minha professora de português trouxe-o numa semana de aulas e apresentou-o e eu disse-lhe que fiquei fascinada. Do que eu não gostava na literatura fantástica, eu percebi porquê quando li Sabriel, Lirael e Abhorsen.
A trilogia conta a história de duas gerações num país em duas cidades se encontram divididas por um muro: Ancelstierre, a cidade da razão, lógica, ciência e racionalidade, em que todo o desconhecido é ignorado, tal como aquele do Reino Antigo, do outro lado do muro, em que a Necromancia e a Magia livre batalham-se mutuamente por questões de paz e poder, estabilidade e desordem.
O leque de personagens é variado, misterioso, fascinante. Sabriel é a herdeira do título de Abhorsen - uma espécie de Templário da Necromancia, o Necromante encarregue de enviar os Mortos rebeldes de volta para os seus eternos descansos através do uso dos sete sinos - que, juntamente com Touchstone (um ser aprisionado como figura de proa de madeira de um barco durante duzentos anos e legítimo herdeiro do trono do Reino Antigo) e Mogget (um estranho gato branco que fala com sarcasmo, ironia e uma divertida má disposição), irá aprender numa viagem de salvamento e auxílio ao seu pai a difícil missão de suportar tal título.
Lirael é uma jovem habitante do Glaciar das Clayr que, aos catorze anos (três anos mais tarde do que o normal), ainda não recebeu os seus dons da Visão. Sentindo que não se consegue enquadrar, ela cria uma companhia própria para si - a Cadela desavergonhada, uma criatura da Magia Livre aprisionada numa coleira mágica. Embora não possua a Visão, a moça irá descobrir que possui dons e capacidades mais poderosas e intensas do que qualquer Clayr do glaciar.
Enquanto isso, Sameth é o filho da actual Abhorsen Sabriel e o rei Touchstone I e o legítimo Abhorsen-em-Espera, mas que sofre um medo terrível da morte depois de um encontro quase mortal com Hedge. A sua missão consiste em encontrar o seu amigo Nicholas Sayre, descrente em toda a magia do Reino Antigo, raptado por Hedge.
Em Abhorsen, a história do segundo livro encontra um fim quando uma profecia ditada pelas Clayr se concretiza: Lirael e Nicholas Sparks atravessam o rio num barco. Aqui, todo o enredo encontra um final fascinante e emocionante, pleno de surpresas, tristezas, alegrias.
As obras não contam apenas histórias fantásticas de dois mundos inexistentes. Falam-nos de questões humanas como o destino de cada um, o caminho a seguir, a luta interior em aceitar - ou não - as consequências da nossa hereditariedade. Ensina-nos sobre a amizade e a união, sobre a força, a coragem e o humanismo. É uma bela história, uma harmonia entre personagens ricas, que nos ensina a esperança sob a forma literária fantástica.
Ao longo da obra, encontramos referida a mesma frase várias vezes, frase essa que, oito anos depois, tenho bem impressa na memória:
«É o caminhante que escolhe o caminho, ou o caminho que escolhe o caminhante?»
Género: Fantástico.
Autor: Garth Nix
Quando tinha 12 anos, tinha uma professora de português que nos fazia ler. Todas as semanas, ela trazia um livro diferente da colecção Estrela do Mar, da editora Presença, e contava-nos a sua história. Todos nós, preguiçosos como éramos para crianças na flor da adolescência, nos sentíamos imediatamente cativados pelo seu entusiasmo ao recriar as histórias fantásticas na sua própria visão e palavra.
Desde pequena que sempre li, mas foi com esta professora que aprendi a escolher os meus livros, a entrar numa livraria e ler a contra-capa, escolher o desenho mais bonito da capa, avaliá-lo pela sinopse. Passei a ter um gosto e vontade própria em comprar livros.
Quando tinha 14 anos, entrei na Fnac de Almada, muito recentemente aberta no muito recentemente inaugurado Almada Fórum - estávamos em 2004 - e vagueei pela secção infanto-juvenil, onde a minha colecção predilecta (a Estrela do Mar) estava disposta. Nesse dia, aventurei-me por outros corredores, nomeadamente os da secção fantástica.
Ali, todas as capas dos livros que estavam dispostos eram bonitas e tinha desenhos apelativos. As sinopses escritas nas contracapas tinham nomes incompreensíveis e difíceis de pronunciar - apaixonei-me de imediato.
Nunca me apeguei demasiado à literatura fantástica por sentir, por vezes, que não passa disso: fantasia. Um punhado de personagens com nomes esquisitos lançadas para um mundo de monstros e feras em que o escolhido renasce das cinzas de miséria em que provavelmente se insere e domina com riqueza e bravura o seu mundo. E, no fim, consegue a miúda.
Nesse dia em que avaliei a secção de literatura fantástica pela primeira vez, descobri numa prateleira um livro verde intitulado A Missão de Sabriel (versão portuguesa). Os desenhos eram, para mim, ousados e atrevidos. A capa da versão portuguesa apresenta uma mulher de cabelo preto, segurando uma espada numa mão, que atravessa ao longo do seu olhar com um ar pesado e ousado, e no seu peito está atravessado um cinto com pequenas bolsas para sete sinos.
Comecei a ler o livro quase imediatamente e não consegui parar. Quando o terminei, a minha professora de português trouxe-o numa semana de aulas e apresentou-o e eu disse-lhe que fiquei fascinada. Do que eu não gostava na literatura fantástica, eu percebi porquê quando li Sabriel, Lirael e Abhorsen.
A trilogia conta a história de duas gerações num país em duas cidades se encontram divididas por um muro: Ancelstierre, a cidade da razão, lógica, ciência e racionalidade, em que todo o desconhecido é ignorado, tal como aquele do Reino Antigo, do outro lado do muro, em que a Necromancia e a Magia livre batalham-se mutuamente por questões de paz e poder, estabilidade e desordem.
O leque de personagens é variado, misterioso, fascinante. Sabriel é a herdeira do título de Abhorsen - uma espécie de Templário da Necromancia, o Necromante encarregue de enviar os Mortos rebeldes de volta para os seus eternos descansos através do uso dos sete sinos - que, juntamente com Touchstone (um ser aprisionado como figura de proa de madeira de um barco durante duzentos anos e legítimo herdeiro do trono do Reino Antigo) e Mogget (um estranho gato branco que fala com sarcasmo, ironia e uma divertida má disposição), irá aprender numa viagem de salvamento e auxílio ao seu pai a difícil missão de suportar tal título.
Lirael é uma jovem habitante do Glaciar das Clayr que, aos catorze anos (três anos mais tarde do que o normal), ainda não recebeu os seus dons da Visão. Sentindo que não se consegue enquadrar, ela cria uma companhia própria para si - a Cadela desavergonhada, uma criatura da Magia Livre aprisionada numa coleira mágica. Embora não possua a Visão, a moça irá descobrir que possui dons e capacidades mais poderosas e intensas do que qualquer Clayr do glaciar.
Enquanto isso, Sameth é o filho da actual Abhorsen Sabriel e o rei Touchstone I e o legítimo Abhorsen-em-Espera, mas que sofre um medo terrível da morte depois de um encontro quase mortal com Hedge. A sua missão consiste em encontrar o seu amigo Nicholas Sayre, descrente em toda a magia do Reino Antigo, raptado por Hedge.
Em Abhorsen, a história do segundo livro encontra um fim quando uma profecia ditada pelas Clayr se concretiza: Lirael e Nicholas Sparks atravessam o rio num barco. Aqui, todo o enredo encontra um final fascinante e emocionante, pleno de surpresas, tristezas, alegrias.
As obras não contam apenas histórias fantásticas de dois mundos inexistentes. Falam-nos de questões humanas como o destino de cada um, o caminho a seguir, a luta interior em aceitar - ou não - as consequências da nossa hereditariedade. Ensina-nos sobre a amizade e a união, sobre a força, a coragem e o humanismo. É uma bela história, uma harmonia entre personagens ricas, que nos ensina a esperança sob a forma literária fantástica.
Ao longo da obra, encontramos referida a mesma frase várias vezes, frase essa que, oito anos depois, tenho bem impressa na memória:
«É o caminhante que escolhe o caminho, ou o caminho que escolhe o caminhante?»
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