Pseudo-Crítica: Untitled (2009)

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Um dos maiores debates no mundo artístico actualmente, inserido nesta esfera do contemporâneo que é o século XXI, é, afinal, o que é ou deixa de ser arte. Os campos foram expandidos em vários aspectos - já não se trata apenas das quebras consecutivas de cânones que o século passado viu acontecer, nem das provocações incitadas pela controversa forma de arte, como os anos '60 (e não só) o ditaram, mas de um alargamento que transformou todo o conceito. O que é, concretamente, esse conceito, actualmente, fica ao critério de cada um - e sem entrar em teorias demasiado profundas.

Untitled conta a história de uma dona de uma galeria de arte, inclinada para uma contemporaneidade difícil de absorver para a maioria dos espectadores, um músico que baseia as suas composições em sonoridades banais como baldes a cair e papéis a rasgar, enquanto o seu irmão, um pintor voltado para um abstraccionismo que se assemelha a uma versão contemporaneizada de um Kandinsky, se esforça para obter o seu lugar no mubndo da arte. 

Estas personagens materializam um mundo artístico actual e realista: um mercado de arte onde o que vinga é a excentricidade, o minimalismo ou mesmo o completo oposto: a extrema complexidade. As personagens que se cruzam descrevem-no da forma absolutamente completa graças à sua diversidade: o artista demasiado minimalista, cuja arte é composta por objectos insignificantes e insípidos, apenas denominados arte devido ao seu contexto (Ptolomy Slocum); o artista cuja obra não é mais do que uma direcção a uma equipa de construção, semelhante às direcções de um arquitecto aquando da sua obra, mas sem qualquer esboço prévio (Vinnie Jones); até ao coleccionador de arte irracional e compulsivo, onde as obras se empilham numa sala escura enquanto outras, as mais excêntricas e ilógicas, são exibidas descontextualizadamente e sem ordenação pela casa fora, sem que o próprio coleccionador entenda os seus conceitos ou sequer evoque uma razão para a paixão da sua profissão (Zak Orth).

Uma sátira ao mundo actual da arte, este filme representa os seus problemas actuais de forma um tanto rebuscada mas eficaz por meio de uma comédia, por vezes, um pouco difícil de entender. Desdobrando-se por meio de várias personagens a fim de explicitar os quatro cantos da arte e difundir e abordar os seus problemas, estes tornam-se sátiras quase cruéis mas que o espectador não pode pôr de lado - ele reconhece-as. Os aspectos artísticos aqui levantados ganham quase que uma íntima relação com o espectador mas o que procura não é segregar a arte ou etiquetar a contemporaneidade de que forma for - antes suscita o debate no espectador e o leva a viajar pelos campos artísticos da actualidade por fim a que consiga ele próprio responder à questão: o que é, afinal, a arte contemporânea?

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