Ensaio sobre os Bajuladores

01:27

O bajulador é um espécime que pode ser encontrado em qualquer campo de trabalho ou estudo, mas é mais comum ser visto no local de investigação, maioritariamente académico. Conquanto que aluno e predisposto a aprender, o bajulador apresenta, à partida, uma predisposição para captar informação nova a uma velocidade inacreditável. O bajulador mostrar-se-á interessado em temas variados da sua área de investigação e outros além desse, mas não demasiado desviados por fim a não levantar suspeitas. Será um ávido comprador de material da sua área e leitor assíduo das questões da actualidade de qualquer que seja o campo em que se insere.

Contudo, apesar do aspecto aparentemente interessado do bajulador, na verdade, ele detém menos capacidade de reter informação do que o habitual ser humano. Poderíamos chamar-lhe de menos inteligente que o comum mortal. Isto porque a capacidade de reter informação do bajulador, conquanto que vertiginosa, revela-se falível, até porque ele demonstra essa mesma capacidade em reter a dita informação como superior a qualquer outro, capacidade essa superada apenas por Einstein por usar cerca de 20% do cérebro (mais do que a média), o que se provou um mérito de realçar.

Mas este bajulador, vendo-se incapaz de usufruir da inteligência que a maioria dos seres humanos compartilha, procura outras técnicas. Facto é que procurará as alternativas: ele agarrará, por meio dos diálogos, das conversas e das trocas de ideias previamente calculadas e medidas em termos de causa e efeito, deliciar o opositor. A sua conversa provocará um deleite no inimigo por fim a causar uma vontade inóspita de lhe escutar o discurso; provocará uma fraqueza de espírito apenas descritivelmente assemelhada àquela sensação de descobrir o fascínio perante um ídolo. A causa que o bajulador provocará não será exactamente aquela que sentimos perante o que provoca em nós o espírito de idolatria, mas uma meio termo entre a completa abnegação e essa mesma idolatria. Portanto, o bajulador levará avante a ideia de interesse mínimo. Esse mesmo interesse, desenvolver-se-á numa troca de ideias que eventualmente conduzirá à apreciação por parte do superior do seu discurso e opiniões.

Portanto, podemos concluir que o bajulador não é, concretamente, como comummente será considerado, um macho ou fêmea alfa, mas um beta ou pseudo-alfa, que procura ser alfa mas, sabendo-se incapaz de usufruir de capacidades inexistentes, sabendo-se não-possuidor das qualidades que dignificam um alfa, dissimulá-las-á por meio de um discurso pleno de erudição e rico léxico apenas equiparável a uma acta de reuniões da assembleia de 1867.

Este espécime será mais comumente encontrado no âmbito do espaço educativo, quer seja académico, quer seja na escolaridade média/obrigatória. O espécime em questão - o bajulador - não é um espécime difícil de encontrar. Dadas as dificuldades em encontrar emprego na actualidade, em se manifestar perante as incapacidades intelectuais do mundo, perante as capacidades do ser desempregado, o bajulador procura obter o seu lugar cativo desde cedo. Para isso, irá executar toda uma série de tarefas perto daquele que procura fascinar, por exemplo: perguntar constantemente como foi o seu dia, ainda que o seu grau de intimidade não o dite como evidente, oferecer almofadas em forma de dónutes quando se senta e colocar perguntas acerca do casamento e consequente vida pessoal da figura de autoridade cuja distância laboral entre ambos torn a questão eticamente condenável.. Constantes elogios ao trabalho que o bajulador, à partida, desconhece ou excessiva iniciativa junto do superior são outras evidências da sua actividade, geralmente desenquadradas das actividades colectivas dos restantes que se inserem no mesmo círculo social deste.

O espécime do bajulador poderá ser extremamente prejudicial. O seu enquadramento sociológico é aquele de um vulgar burguês. As suas posses monetárias e capacidades financeiras ditam um estatuto que poderá não ser o mais evidente. Muitas vezes, o bajulador mostrará todo um estatuto social que não é verdadeiro apenas a fim de deslumbrar o seu objecto. Por oposição àquele que não se enquadra no perfil do bajulador, este procurará definir o seu status pessoal e social por meio do gosto; o seu gosto moldar-se-á consoante parâmetros estabelecidos pela sociedade e limados pelo objecto a deslumbrar. O gosto pessoal do bajulador é, na verdade, inexistente. Isto levá-lo-á a exercer livres e insultuosas críticas àqueles que se apresentam no que o bajulador considerará um status inferior a si mesmo.

A melhor forma de lidar com um bajulador será contradizê-lo constantemente. Conquanto que isto pareça aborrecido e mesmo incómodo, a verdade é que levará o bajulador à exaustão. Contudo, prepare-se: o bajulador contra-atacará. Ele erguerá as suas garras por fim a derrotá-lo, pois este espécime crerá que você pretende apenas substituí-lo e não pôr termo, simplesmente, à sua actividade ilícita. Não tenha medo em mostrar mais do que o bajulador. A forma de contornar este aspecto é recorrendo à experiência pessoal. Certifique-se de que recorre bastante a termos como "eu fiz" ou -"eu consegui". Demarque bem a ideia centralizada do "eu" e incite ao seu próprio conhecimento e experiência pessoal. Exemplificar que você é bem sucedido, mesmo que, para si, o bem sucedido não se equipare às condições de sucesso do bajulador, agitará o bajulador. A verbalização serão suficientes. Tenha confiança na sua resposta, pois o bajulador não saberá mais do que você - não se esqueça que a sua sabedoria é meramente encenada. Além disto, realce sempre a possibilidade - provavelmente efectiva - de que você sabe mais do que o bajulador e de que se interessa mais. Adopte uma postura física que se insira entre o desprezo e a altivez. A ameaça ao bajulador atrapalhá-lo e causará atrofia suficiente para lhe deturpar o discurso.

Se conhece um bajulador, não desista na sua luta. O mundo vive empestado de bajuladores e necessita enveredar por um novo caminho, para uma aurora limpa e pura. Não desista. Continue a lutar contra os bajuladores e evidencie as suas capacidades a uma sociedade suja de personalidades graxistas. Não desista das suas capacidades e desafie sempre aqueles que recorrem o léxico antiquado em oposição à sapiência pura. Lute contra os bajuladores.

Por um Portugal mais limpo, sem bajuladores.

You Might Also Like

0 torradas

Etiquetas