Ensaio sobre os Bajuladores
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O
bajulador é um espécime que pode ser encontrado em qualquer campo de
trabalho ou estudo, mas é mais comum ser visto no local de investigação,
maioritariamente académico. Conquanto que aluno e predisposto a
aprender, o bajulador apresenta, à partida, uma predisposição para
captar informação nova a uma velocidade inacreditável. O bajulador
mostrar-se-á interessado em temas variados da sua área de investigação e
outros além desse, mas não demasiado desviados por fim a não levantar
suspeitas. Será um ávido comprador de material da sua área e leitor
assíduo das questões da actualidade de qualquer que seja o campo em que
se insere.
Contudo, apesar do aspecto aparentemente interessado
do bajulador, na verdade, ele detém menos capacidade de
reter informação do que o habitual ser humano. Poderíamos chamar-lhe de
menos inteligente que o comum mortal. Isto porque a capacidade de reter
informação do bajulador, conquanto que vertiginosa, revela-se falível,
até porque ele demonstra essa mesma capacidade em reter a dita
informação como superior a qualquer outro, capacidade essa superada
apenas por Einstein por usar cerca de 20% do cérebro (mais do que a
média), o que se provou um mérito de realçar.
Mas este
bajulador, vendo-se incapaz de usufruir da inteligência que a maioria dos
seres humanos compartilha, procura outras técnicas. Facto é que
procurará as alternativas: ele agarrará, por meio dos diálogos, das
conversas e das trocas de ideias previamente calculadas e medidas em
termos de causa e efeito, deliciar o opositor. A sua conversa provocará
um deleite no inimigo por fim a causar uma vontade inóspita de lhe
escutar o discurso; provocará uma fraqueza de espírito apenas
descritivelmente assemelhada àquela sensação de descobrir o fascínio
perante um ídolo. A causa que o bajulador provocará não será exactamente
aquela que sentimos perante o que provoca em nós o espírito de
idolatria, mas uma meio termo entre a completa abnegação e essa mesma
idolatria. Portanto, o bajulador levará avante a ideia de interesse
mínimo. Esse mesmo interesse, desenvolver-se-á numa troca
de ideias que eventualmente conduzirá à apreciação por parte do superior
do seu discurso e opiniões.
Portanto, podemos concluir que o
bajulador não é, concretamente, como comummente será considerado, um
macho ou fêmea alfa, mas um beta ou pseudo-alfa, que procura ser alfa
mas, sabendo-se incapaz de usufruir de capacidades inexistentes,
sabendo-se não-possuidor das qualidades que dignificam um alfa,
dissimulá-las-á por meio de um discurso pleno de erudição e rico léxico
apenas equiparável a uma acta de reuniões da assembleia de
1867.
Este espécime será mais comumente encontrado no âmbito do
espaço educativo, quer seja académico, quer seja na escolaridade
média/obrigatória. O espécime em questão - o bajulador - não é um
espécime difícil de encontrar. Dadas as dificuldades em encontrar
emprego na actualidade, em se manifestar perante as incapacidades
intelectuais do mundo, perante as capacidades do ser desempregado, o
bajulador procura obter o seu lugar cativo desde cedo. Para isso, irá
executar toda uma série de tarefas perto daquele que procura fascinar,
por exemplo: perguntar constantemente como foi o seu dia, ainda que o
seu grau de intimidade não o dite como evidente, oferecer almofadas em
forma de dónutes quando se senta e colocar perguntas acerca do casamento e consequente vida pessoal da figura de autoridade cuja distância laboral entre ambos torn a questão eticamente condenável.. Constantes elogios ao trabalho que o bajulador, à
partida, desconhece ou excessiva iniciativa junto do superior são
outras evidências da sua actividade, geralmente desenquadradas das
actividades colectivas dos restantes que se inserem no mesmo círculo
social deste.
O espécime do bajulador poderá ser extremamente
prejudicial. O seu enquadramento sociológico é aquele de um vulgar
burguês. As suas posses monetárias e capacidades financeiras ditam um
estatuto que poderá não ser o mais evidente. Muitas vezes, o bajulador
mostrará todo um estatuto social que não é verdadeiro apenas a fim de
deslumbrar o seu objecto. Por oposição àquele que não se enquadra no
perfil do bajulador, este procurará definir o seu status pessoal e
social por meio do gosto; o seu gosto moldar-se-á consoante parâmetros
estabelecidos pela sociedade e limados pelo objecto a deslumbrar. O
gosto pessoal do bajulador é, na verdade, inexistente. Isto levá-lo-á a
exercer livres e insultuosas críticas àqueles que se apresentam no que o
bajulador considerará um status inferior a si mesmo.
A melhor
forma de lidar com um bajulador será contradizê-lo constantemente.
Conquanto que isto pareça aborrecido e mesmo incómodo, a verdade é que
levará o bajulador à exaustão. Contudo, prepare-se: o bajulador
contra-atacará. Ele erguerá as suas garras por fim a derrotá-lo, pois
este espécime crerá que você pretende apenas substituí-lo e não pôr
termo, simplesmente, à sua actividade ilícita. Não tenha medo em mostrar
mais do que o bajulador. A forma de contornar este aspecto é recorrendo
à experiência pessoal. Certifique-se de que recorre bastante a termos
como "eu fiz" ou -"eu consegui". Demarque bem a ideia centralizada do
"eu" e incite ao seu próprio conhecimento e experiência pessoal.
Exemplificar que você é bem sucedido, mesmo que, para si, o bem sucedido
não se equipare às condições de sucesso do bajulador, agitará o
bajulador. A verbalização serão suficientes. Tenha confiança na sua
resposta, pois o bajulador não saberá mais do que você - não se esqueça
que a sua sabedoria é meramente encenada. Além disto, realce sempre a
possibilidade - provavelmente efectiva - de que você sabe mais do que o
bajulador e de que se interessa mais. Adopte uma postura física que se
insira entre o desprezo e a altivez. A ameaça ao bajulador atrapalhá-lo e
causará atrofia suficiente para lhe deturpar o discurso.
Se
conhece um bajulador, não desista na sua luta. O mundo vive empestado de
bajuladores e necessita enveredar por um novo caminho, para uma aurora
limpa e pura. Não desista. Continue a lutar contra os bajuladores e
evidencie as suas capacidades a uma sociedade suja de personalidades
graxistas. Não desista das suas capacidades e desafie sempre aqueles que
recorrem o léxico antiquado em oposição à sapiência pura. Lute contra
os bajuladores.
Por um Portugal mais limpo, sem bajuladores.
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