Os idos de Janeiro

03:39

Faz quase um ano que escrevi o texto abaixo citado. Faz quase um ano que as situações da minha vida divergiam em completo absoluto daquilo que hoje se apresentam. As ideias uqe permaneciam na minha cabeça tornaram-se tormentos perante as realidades que se me afrontaram, e nada mais pude fazer que não aprender a viver com elas. Se cresci, não consigo dizer, porque no meu íntimo mais profundo, os sentimentos assemelham-se àqueles vividos nesta altura citada, porque a dor, a traição, e em resumo, a vida são sentidos de forma universal, apenas variando de se humano para ser humano. Faz um ano que o dito texto foi escrito, atendendo situações diferentes, atendendo a uma vida diferente, atendendo a vicissitudes que em nada se assemelham. Mas a universalidade do seu sentimento ligam-no a uma actualidade pessoal que não consigo expressar, e cuja única expressão encontro nestas mesmas palavras, as que abaixo cito, que se tornam intemporais e universais nessa intemporalidade e universalidade que são os sentimentos que vivemos diariamente e que nos ensinam a crescer e a ser mais fortes. Em que me reforçaram, não sei. Em que me ensinaram a crescer, e que crescimento foi esse que me proporcionaram, não sei. Mas eis que queria sentar-me a descrever tudo isto que me passa pelo coração neste preciso momento, e me deparo com estas palavras, e eis que penso: tudo ocorre de forma unitária, demasiado homogénea para ser ignorada. E aqui está. As dores de um vazio que parecem ser universais dentro de uma universalidade pessoal. Que serão sempre as mesmas. E como eu dizia quando era miúda, sou demasiado pequenina para ter mais do que um sentimento em simultâneo no meu coração.

Surge, no início, como um aperto no peito que desfaz e torce o coração como uma toalha molhada num dia frio e húmido. Persegue-nos infinitamente até ao momento em que nos deitamos no escuro e olhamos o ar vago perguntando-nos onde haveremos de ter errado, onde terá acontecido o erro que nos propulsionou a esta desgraça.

Ninguém sabe o vazio de um coração até o sentir; e eis que mundo ordinário como este julgará todos estes momentos como nada mais que pinturas externas das histórias românticas de que tanto fugimos e que nos banham diariamente as infantilidades do dia-a-dia, impossíveis de se viver, ladeadas de mentiras belas suficientes para nos cercarem de ilusão. Até o sentirem, a dor de sentir aquele espaço vago entre o sentimento e a saudade; até sentirem o seu ardor inconstante, ninguém o sabe, nem o saberá até que dor essa lhe corra pelas veias e lhe suba pela sangue até ao cérebro. Ninguém sabe.

E podem julgar e apontar dedos e citá-la como ridícula ou inóspita; verdade é essa que ela existe e atormenta as mentes mais puras que nada mais que um bem universal desejam; e espelham seu esforço nos olhos tingidos de um ardor inefável que escondem nos acontecimentos secretos do dia-a-dia. Verdade é essa a que se esconde nos olhares alheios e nos braços trémulos de quem deseja o bem e embebe o mal nas suas mãos trémulas e cansadas de uma tristeza desconhecida.

O bem, esse, esconde-se por entre as ervas daninhas da vida e se disfarça por entre as ervas verdes que pintam os prados da cor da inveja e matam os bichos alegres que nos alimentam a terra. O bem esconde-se por onde não pode ser encontrado e é esmurrado e espancado porque ninguém se apercebe de onde ele está. O bem infiltra-se nas situações e nos momentos em que não deverá existir ou presencias, apenas deverá ser procurado. Do bem, ninguém sabe dele. E os outros que o procurem sem o êxtase que ele próprio encontra ao sorrir e ao segurar essa mão alheia que não o reconhece e o pinta como o malvado. Esse que anda aí, e lacrimeja as verdades que todo o restante mundo se recusa a sentir por si.

Ela pinga sobre a pedra da calçada que vai pisando languidamente e sente essa dor escondida dos corações palpitantes que sentem e sentem tudo e os sentimentos como uma pedra que se infiltra no calçado do homem vagabundo que procura nada mais do que a felicidade.

Não recorram a ela como quem precisa de favores últimos e não sabe achar as verdades nos recantos mais reconhecidos de sua juventude, ou se deixa conduzir por banalidades inexistentes de uma mente sã e material que nada mais quer que o seu próprio conforto, bastante anterior a qualquer outra sensação universalizante da boa-ventura. Não a tomem por garantida. Para sempre estará ela sob uma dúvida divina ou humana de suas qualidade enquanto confiante de tais instintos. Para sempre deveria ela ser duvidada enquanto é ela mesma tida como uma garantia irredutível. Pois sua confiança não se compra a troco coisa barata, mas cara também não o é. O segredo, sempre e sempre, permanece em palavras mágicas escondidas entre os infinitos disfarçados de embriaguez. E nada mais vos custará.

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