Pseudo-Crítica: Tomorrow, When The War Began

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Tomorrow, When The War Began, em português, Guerreiros de Amanhã, conta a história de um grupo de adolescentes que decide acampar durante um fim de semana, para encontrar uma desagradável surpresa na manhã seguinte. Alheios aos acontecimentos nacionais, descobrem a sua cidade deserta, sem luz nem comunicação. As únicas presenças que ouvem são os aviões militares que esporadicamente os sobrevoam.

Descobrem, então que o país foi invadido, que todas as suas famílias foram tomadas em campos de concentração, e que correm o perigo de serem apanhados.

O que começa por ser um conto de adolescente, desenvolve-se, afinal, numa lição de vida. Lembro-me de ver este trailer na televisão e pensar 'mais um filme de terror da tanga'. Às imagens dos 'jovens adolescentes que vão acampar' estava à espera de ver surgir de trás de um arbusto uma besta qualquer de serra eléctrica em punho ou de machado erguido. Em vez disso, cai uma bomba. E foi essa bomba que me fez pensar 'se calhar, este filme até vale qualquer coisinha'.


Embora a construção narrativa não seja por aí além, e em alguns pontos até exagerada, não deixa de se focar no essencial. Os clichés são óbvios: cada personagem é o mais claro estereótipo de todo o santo filme de adolescente com que Hollywood nos esfrega na vista todos os anos. A maria-macho que sabe jogar à bola e pentear-se; a menina loirinha que só sabe pintar unhas e ler revistas; o casalinho perfeito; o gajo estranho que nunca percebemos muito bem porque é que ali está (regra geral, um gajo de nacionalidade diferente à do filme); a menina católica, filha de família religiosa; o gajo rebelde que só se mete em sarilhos. Cada estereótipo é tão óbvio que, numa parte inicial, não deixa muitas esperanças.

No entanto, o ponto de partida deste filme, quer me parecer, é precisamente esse. O que acontece quando estes sete clássicos exemplos, do mais óbvio que pode haver, se encontram cercados por tropas alheias, que tomaram de assalto o seu país? É nesse ponto que o filme quebra os estereótipos.

Obrigados a pegar numa arma e a defender-se, todos eles começam a testemunhar eventos que nunca imaginariam testemunhar. De crianças, a vida obriga-os a tornarem-se adultos à força. Vemos, ainda no acampamento, a personagem feminina e loirinha sentar-se ao lado da maria-macho e confessar que nunca nenhum rapaz a convidou para sair. Este é o ponto de partida que nos interessa, e o ritmo que o filme assume: lentamente, esses clichés que bem conhecemos, vão se destruindo, quase de dentro para fora, à medida que a história se vai desenvolvendo, ao ritmo certo.

O filme não aborda muito mais do que isso: os adolescentes e a sobrevivência. Quando se apercebem que a única forma de cortar as ligações com as tropas exteriores à cidade é destruindo a única ponte de ligação, dá-se o ponto de viragem essencial: executam o plano como guerrilheiros, mas dentro do camião que dentro de minutos irão explodir, as duas raparigas conversam sobre rapazes.

De realçar é a cena em que Robyn é obrigada a pegar numa arma e defender os seus amigos - a única que jurou a Deus nunca ter de pegar numa arma e cometer homicídio. A intensidade é conseguida: os gritos dos seus amigos sobrepõem-se ao disparar constante das metralhadoras; abate-se, no entanto, todo aquele silêncio, sinónimo de uma consciência encurralada pelo dever, mas atormentada pelas promessas de uma moral, no momento em que a criança prime o gatilho.

Não considero o filme uma obra prima. Não considero um must-see. Mas considero uma lufada de ar fresco nos filmes para e sobre adolescentes. Já cansava tanta cena de adolescentes rebeldes a acamparem em matos de assassinos e casas assombradas. Este é um filme que pega nesse tema tão cliché e cansativo - a adolescência - e o explora num novo termo: a sobrevivência. A questão o que acontece a um grupo de adolescentes quando se vêm obrigados a pegar em armas e lutar pela sua vida é respondida; e a resposta é clara, bem traduzida (embora num final à rambo de escola secundária): unem-se, lutam, crescem à força, mas apesar de tudo, não deixam de ser meras crianças que enfrentam horrores de uma vida que não estavam à espera, e que só queriam acampar durante um fim de semana.

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