Expectations vs Reality

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«Tom walked to her appartment, intoxicated by the promise of the evening. He believed that, this time, his expectations would allign with reality.»

Nestes termos, a comédia romântica, esse estilo de filme de um domingo à tarde pleno de estrogénio, impõe-se como comédia negra. Enquanto um desfilar de desgraças alinhadas defronte de um só personagem, encafuada nessa trincheira de guerra pura que será para si o amor, nós, como espectador, rimo-nos. As desgraças parecem-nos engraçadas, as trapalhices são estímulos visuais de situation comedy que nos provocam gargalhadas e a dor sentimental, a dor do clássico romântico que faz tudo para conseguir a miúda que parece não lhe ligar nenhuma, essa dor parece-nos que tem piada.

Em (500) Days of Summer, a dualidade dor/felicidade de Tom que o filme nos apresenta na primeira hora de filme é-nos engraçada. Todo o subjectivo presente na montagem tem o propósito que nos capte a atenção e provoque gargalhadas. O próprio arranque do filme nos proporciona um momento engraçado perante uma situação impensável aos olhos da sociedade actual: o choque de gerações, criança/adulto, e a eventualidade de - por sugestão ou não do realizador - a sociedade dar ouvidos àqueles que menos idade têm.

Lentamente, as situações vão surgindo e ressurgindo e como um novelo de lã à la telenovela, não perdendo o clássico fio condutor hollywoodesco, as coisas lá se complicam. E parece que quanto mais se complicam, mais engraçadas se tornam. Quanto mais a dor de Tom é agravada - que surge corroborada pelos constantes flashbacks desses momentos alegres - mais engraçada se torna.

Até que surge o momento de sobriedade. Este ritmo é completamente quebrado em em split screen e ao som de Hero de Regina Spektor. O momento em que o narrador anuncia em voz-off a situação em que a personagem se encontra, explica superficialmente a dualidade da situação, e em duas frases resume todo o complexo que as seguintes imagens irão mostrar.

Esta é daquelas situações que é como tudo na vida. Em qualquer momento de altas expectativas, tendemos sempre a ignorar a realidade por escassos segundos, até que um fio de desilusão nos encha os pulmões de ar ao expirarmos essa tristeza disfarçada. Marc Webb leu a vida dessa forma, classicamente da esquerda para a direita - Expectations =» Reality.

Todo um ritmo de comédia é quebrado por este split screen que nos representa uma realidade crua raramente representada. A expectativa à frente da própria realidade, de uma forma tal esmagadora que gradualmente assistimos ao desenrolar de uma inexplicável sensação de ardor que se acresce à desilusão. E um pano fino lentamente se ergue perante a visão, uma cortina da ilusão que sobe. O que tornará, no entanto, esta cena tão crua será o planar de ambas as situações perante os nossos olhos. O desdobrar de uma realidade/expectativa que, projectada num ecrã à nossa frente, apenas vincula essa desilusão.

No desenrolar da acção, Tom dá por si cercado numa situação que deixa de reconhecer, embora ainda embebido numa leve esperança ilusória de que a expectativa se venha a sobrepor à realidade. No momento dessa tomada de consciência - o anel no dedo daquela que outrora fora o seu amor - todo o mundo colapsa de forma quase épica à volta do protagonista. Primeiro, caem as cores. As linhas esborratam-se, confundem-se ao perderem significado. Todo o contraste da vida é de um negro contra um branco muito claro. E por fim, as linhas começam a desaparecer, apagadas por ninguém mais que o próprio protagonista, que seguro atrás de uma cortina ilusória, lendo os sinais da vida da esquerda para a direita, sobrepondo a expectativa à ilusão e fechando os olhos ao óbvio de toda uma situação, assim se encontra estagnado num mundo pálido e plano, sem linhas, sem desenhos, sem qualquer preenchimento que não o apagado de um passado que não parece conseguir largar, nada mais que um corroborar de expressão essa que diz o povo, só vemos aquilo que queremos ver.

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