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A memória é como um arrepio que percorre o corpo todo numa noite de Inverno, fria. É uma sensação de familiaridade, talvez por um sentimento, por uma sensação. Como quem reescreve as mesmas palavras num papiro. Uma sensibilidade aguda. Como um déjà-vu. E depois de tudo isso desaparecer, de essa onda breve de calor imaginário nos percorrer cada membro, até nos deixar sem mais nada senão a nossa pele nua, o nosso espírito despido, apercebemo-nos de que a sensação se foi embora. Mas fica aquele tinir frágil no espírito. A associação de algo. O vazio de qualquer coisa que estava ali, mas já não está, sem que alguma vez saibamos o que foi. E o desespero mudo de a querer de volta. Cercados por paredes imaginárias. E não nos mexemos, mesmo que por segundos, que talvez num desejo mórbido de apelo à dor, apesar de tudo, a memória é-nos reconfortante, e o calor imaginário que apenas por segundos nos percorreu o corpo, é na verdade, a capacidade de voltar a sentir.

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