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Ele anda aí: na forma das brisas quentes que atravessam as janelas das marquises (ou como raio se diz) abertas, soprando moscardos para o interior dos lares, a secar as roupas dos estendais, a impinjir as t-shirts e mangas cavas, mesmo à noite, e ainda há dois dias atrás eu vestia três casacos e descia uma rua a cem à hora, levada pela ventania, a tremer de frio e a esgueirar um chapéu de chuva dentro de uma mala gigante, embrulhado num saco de plástico, não fosse chover e molhava-me aquilo a mala toda... É impressão minha ou o tempo tem andado mais depressa? E daí, talvez assim o seja, mas isso já é algo que tenho vindo a notar de há uns aninhos para cá, desde que decidi deixar de ser criança (se isso alguma vez aconteceu); mas o que parece é que nestes últimos dias a vida tomou uma velocidade incrível, que num minuto é dia, no seguinte é de noite, que de manhã há uma caixa cheia, repleta, plena de cereais e à noite todos eles desapareceram, que num dia é inverno e no próximo é verão... Os dias estão cada vez mais curtos? A vida está a andar mais depressa?
Raios, preciso de sair de casa.
Lá vamos nós aproveitar o "bom tempo" e sair, "à la" bom típico português, para o Centro Comercial, dar o clássico passeio do "Querida, está bom tempo, porque não vamos sair? Olha, o centro comercial parece-me ideal!", tudo para comprar um telemóvel novo - o velho, assassinado, e o assassino ainda não foi descoberto, continua a monte.
(Tenho de ir procurar também o meu fato de treino? É que acho que está para lavar...)
E que depois da improvável aventura, do clássico passeio encarcerado nas paredes do comércio não-típico português, penso eu: descanso. Paz. Solidão, só para mim. Eu e os meus pensamentos a sós.
Mas não.
JANTAR.
Odeio jantares. Em restaurantes finos. Chiques. Onde, quando nos perguntam, "Deseja mais batatas?", não respondemos "Não, obrigada, estou cheia", mas sim, "Obrigada, mas estou satisfeita" (poderão simplesmente achar que isto não passa de sarcasmo meu, mas na verdade, foi-me imposta esta regra, certa e remota vez, por uma expert na matéria, uma espécia de Paula de Bobone com sotaque do Norte). Daqueles em que nos deparamos com 3 garfos, 3 facas, 3 talheres de sobremesa, 3 pratos e 3 copos e nunca sabemos qual usar em que tipo de situação. Daqueles em que os guardanapos são de pano e descartáveis. Daqueles em que a comida está tão bem decorada que nunca sabemos se é carne ou peixe, embora tenha sempre o aspecto de um ananás. Daqueles em que, uma vez, me trataram por senhora e me ofereceram vinho quando eu tinha apenas 14 anos... Daqueles em que o mais rico é que ganha.
Odeio jantares.
Ninguém faz anos. Porquê um jantar?
Prosseguindo. São três horas; tenho de sair de casa, arranjar-me, etc - sou mulher, vou chegar atrasada. Como diria o Gato Fedorento: "Maldito Estigma!"

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