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E é isto. Se se resumisse a uma impressão, traduziria-a como uma lufada de esperança. A longa metragem de Fernando Fragata excedeu as minhas expectativas, nomeadamente vindo de um realizador com ideias alucinadas e um fetiche pelo Helder Mendes a correr descalço.

A história é simples, coesa: Jay (Joaquim de Almeida) quer pôr termo à sua vida, Lucy (skylar Day) sente-se encurralada pela mãe (Michelle Mania) e um telemóvel vidente, Daniel (Joey Hagler) acredita que consegue viajar no tempo. Em cada personagem, existe um pesar da existência que se transforma em fardo. Cada uma, encurralada nos seus fracassos e portas fechadas à sua volta, descobre-se trancado numa obscuridade da vida que não parece ter saída.Mas a magia da existência de cada um resume-se a um mero encontro comum, um entrecruzar de vidas que, perante tal porta fechada, encontram uma janela aberta.

Fragata já se revelara um gajo de coisas grandes. Mesmo os seus telefilmes parecia fruta a mais para a nossa televisão sensacionalista de Telenovelas e concursos para ganhar dinheiro. À parte de, como já referido, os pés de Helder Mendes serem um ponto em comum em cada filme, e até os seus passados argumentos nos parecem pouco credíveis para mente portuguesa, sempre se pressentiu o bichinho da grandeza, de alguém que queria fazer mais, melhor e mais caro, como quem diz "eh pá, este gajo tem ideias lá para Hollywood".

Contraluz resume-se a uma bonita história hipotética (e quase utópico) perante a eventualidade destas personagens se cruzarem, dadas as circunstâncias. E nada mais haverá a dizer sobre a sua breve sinopse, a não ser vão ver o filme e depois percebem. O argumento é sólido, com personagens caricatas, distinguíveis. O encadeado de acontecimentos repete-se sem que o seja cansativo - pelo contrário, torna-se delicioso vê-lo duas e três vezes. E os clímaxes de cada evento resumem-se a bonitos planos, devidamente metaforisados através das suas luzes (ou contraluzes) de tons quentes e de enquadramento subjectivo (e mais espectaculares seriam não tivesse a Lusomundo a ideia de fazer um intervalo a meio). Já os diálogos nos parecem construídos por um português - falta-lhe um pouco a dialéctica americana, não digo um fuck para aqui ou um shit para ali, mas umas expressões idiomáticas que tornassem o sotaque do Joaquim de Almeida um pouco mais americano - mas a bem dizer, o Contraluz deste filme ofusca qualquer falha a nível de diálogos (que me pareceu ser a única). Diálogos à parte, retenho apenas uma crítica: o Scott Bailey estava ao telefone com a irmã ou a ouvir um pitching de uma empresa de produtos das televendas?

Há que prezar tudo o que gira à volta deste filme. Para começar, a iniciativa de um realizador português pegar, finalmente, nos tomates e arrancar para Hollywood para dizer assim aos americanos "Lá, na minha terra, é assim que se fazem filmes". Depois, pelo belíssimo produto final que daí se concluiu, em que se confere que cada plano, cada enquadramento, cada movimento de cada actor e diálogo falado são nada mais que o resultado do esforço e bom planeamento da situação, quer seja por terras lusas que seja por terras do Tio Sam. E, finalmente, o esforço da parte do realizador que venceu, precisamente, naquilo que todos os filmes portuguesa falham: publicidade.

Gostava de realçar a majestosidade do final do filme. Trágico? Feliz? A questão será se o próprio começo é trágico ou feliz, para, então, definirmos o final. A reacção que denotei foi a típica do leigo, ou do gajo que não quer pensar. Num culminar de situações, a conclusão, de facto, está lá. A explicação? A explicação não existe, pelo menos, não mais do que uma sugestão sentida em determinados momentos, sensações sugeridas pelo próprio realizador. A explicação, no fundo (que comparada ao peso da mensagem transmitida, se perde um pouco), cabe a cada um de nós chegar lá.

E verdade seja dita até me pareceu bastante óbvio, ainda que inexplicável, mas a minha questão é MAS TUDO TEM QUE SE JUSTIFICAR NUM FILME, principalmente quando está na categoria de ficção científica?

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